Filhos não sabem quanta alegria proporcionam aos pais com a
sua presença, depois que passam a não mais morar juntos.
Essa afirmação, essa certeza tem base na minha experiência
como filha. Não tinha noção de quanto as minhas visitas eram importantes para
os meus pais, principalmente para minha mãe, depois que ela ficou sozinha. Hoje
carrego comigo esse saldo devedor. Deveria ter ficado muito mais junto deles,
dando-lhes carinho e atenção. Penso poder resgatar essa dívida de outro modo e
num outro tempo. Amo-os eternamente e sinto sua falta. Sinto saudade, muita
saudade.
Pois bem. Agora senta que lá vem a história! Não tenho muito
contato físico com minha filha Fernanda, embora nos falemos regularmente por
telefone. Ela e a família não moram perto da minha casa e a nossa rotina diária
nos impede encontros mais frequentes. O inesperado, no entanto, tem nos feito
agradáveis surpresas.
Há algum tempo, eu precisava entregar uma blusinha de tricô
que teci para a Mariah, filha da Fernanda e minha neta mais velha, por conta de
seu aniversário de doze anos. Fui, então, ao encontro da mãe, que naquela tarde
trabalhava, ela e seu marido André, em um hotel da Rua Senador Alencar Guimarães
em Curitiba. Eles são proprietários de um Catering,
por isso não têm local fixo para trabalhar. Como esse hotel fica no centro da
cidade, ficou mais fácil para mim, ir ao encontro dela lá.
Já tinha passado das quatro horas da tarde quando cheguei ao
local. Por telefone, avisei-a da minha presença e ela desceu para conversarmos.
E não subiu mais. Ficamos passeando pelo calçadão da rua, farta de lojas de
roupas, calçados e outros afins, tudo que faz a alegria de qualquer mulher. Depois,
sentamo-nos em um dos bancos existentes por ali para, simplesmente conversar. Nada
programado, pelo menos por nós duas. E foi delicioso!
Nessa ocasião, fomos personagens de um fato pitoresco. Enquanto
conversávamos, percebi a presença de uma senhorinha sentada no banco em frente,
a nos observar atentamente. Até aí, nada a estranhar, pois nenhuma de nós duas
fazia questão de primar pela discrição ao falar. Estávamos felizes por estarmos
ali e a conversa fluía sem tempo para tomar fôlego. Em determinado momento,
notamos que a senhorinha, com dificuldade para se locomover, precisava de
alguém com documentos que se dispusesse a comprar alguns medicamentos para ela,
na farmácia ali perto. Naturalmente nos oferecemos para ajudá-la. Foi quando,
sem nos conhecer, ela nos entregou seu cartão de débito e nos informou a senha
para fazermos a compra para ela. Nesses tempos de falta de segurança,
causou-nos surpresa a confiança que ela depositou em nós. Na volta da farmácia,
conversamos com ela sobre isso e ela nos respondeu:
- Eu aprendi a ler nos olhos e na boca das pessoas.
Concluímos que ela nos observava para sentir se éramos
confiáveis. Não sabemos o seu nome, nem ela o nosso, mas sempre me lembro dela
em minhas preces. Que não sofra nenhuma violência pelos caminhos da vida.
Dia desses, a mesma Fernanda me convidou para ir com ela ao
Contador para levar uns documentos, mas não deu certo. A pessoa não estava em
casa. Como ambas tínhamos compromisso apenas no final da tarde e ainda era bem
cedo, eis que fomos as duas tomar um suco e comer um sanduíche numa padaria
qualquer. Totalmente inesperado. Outra delícia!
O inesperado é assim. Causa dores imensas, mas, em
contrapartida, proporciona alegrias que não se pode medir. Para mim, somente as
alegrias permanecem povoando meu coração, alimentando o meu amor.
Foi assim nos dez dias em que estive no Rio de Janeiro com
minha filha Kassandra, em dezembro passado, inesquecíveis e felizes dias, assim
é também sempre que minha filha Juliana aparece em minha casa de surpresa para
conversarmos e assim foi com a Fernanda nessas duas ocasiões relatadas. Eu me
sinto completamente feliz!
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