domingo, 26 de janeiro de 2020

A visita




É do conhecimento de todos o caos moral que se abate por sobre a humanidade neste momento.
Ao mesmo tempo em que a tecnologia avança assustadoramente, trazendo ao ser humano conforto e facilidades em todos os setores, a maldade se avoluma e toma conta, proporcionando infortúnios de toda espécie entre as pessoas do mundo inteiro.
No entanto ainda existem oásis, verdadeiras bolhas de paz e harmonia muito perto de nós. Ontem fui à casa de um pescador, de quem sempre compro camarão na praia, para fazer uma visita a ele e sua família. Trata-se do Alfredo Albino Heins e de sua esposa Carmélia. Fui também em busca de histórias vividas por ele no mar, que, oportunamente, contarei aqui.
Foi uma tarde encantadora no seu sentido mais literal. Encontrei naquela casa pessoas de sentimentos puros, que deixam transparecer todo um interior de educação, respeito e bem querer, por tudo e por todos, que não se encontra mais por aí em qualquer esquina. Como me senti bem naquele ambiente de paz. Lamentei estar ali sozinha. Desejava que todos os meus queridos estivessem comigo.
 A Carmélia, que é filha do sr. João Lourenço, amigo de meu pai em outros tempos, gentilmente me ofereceu um café delicioso. E tomamos aquele café regado a uma conversa também deliciosa.
Não é exagero nenhum dizer que saí dali revigorada. Acreditando que neste mundo ainda existem pessoas que valem a pena. 
Nem tudo está perdido como tanto proclamam os noticiários da TV. Ainda há pessoas muito puras que podem e vão semear para o bem e, quando essas sementes germinarem, teremos paz, alegria, harmonia e muito amor entre nós. Quem viver com fé, verá.

domingo, 19 de janeiro de 2020

O Costão dos Náufragos




Aconteceu na segunda metade do século XIX a maior contenda entre países da América do Sul. Foi a chamada Guerra do Paraguai, onde esse país entrou em confronto com os países da Tríplice Aliança, composta por Brasil, Uruguai e Argentina.
Por conta dessa guerra, tropas brasileiras da Paraíba dirigiam-se, por mar, para reforçar as tropas aliadas contra o inimigo. Ao passarem, em alto mar, por Barra Velha, foram surpreendidos por uma tempestade que os fez sucumbir. Os marinheiros, impelidos pelo instinto de sobrevivência, tomaram os escaleres e rumaram para a costa.
Era um mês de junho e os moradores da, então, aldeia de pescadores haviam acendido uma fogueira para os festejos comuns da época e os náufragos avistaram, do mar, o clarão do fogo. Interpretando como um sinal evidente de terra próxima, para ali rumaram. Não é difícil imaginar a alegria e felicidade de que ficaram possuídos naquele momento.
Foi de comum acordo que se propuseram, caso chegassem à praia sãos e salvos, erguer um Cruzeiro em sinal de agradecimento pela proteção recebida.
O pedido foi ouvido pelo Poder Maior e acabaram aportando no costão da praia de Barra Velha. Todos se salvaram e foram acolhidos, alimentados e aquecidos pelos moradores do local. Ficaram aqui por algum tempo e depois seguiram seus destinos. Consta que alguns deles permaneceram por aqui. Registros históricos dão conta da gratidão desses náufragos para com os locais que os acolheram. Foram muito bem recebidos.
O Cruzeiro prometido pelos náufragos foi erguido e até hoje permanece no local onde tiveram o primeiro contato com terra firme. É o nosso Costão dos Náufragos.
Naturalmente cabe uma pesquisa mais profunda sobre o fato. Nossos historiadores locais, por certo, terão detalhes sobre o destino desses sobreviventes e que famílias locais descendem daqueles que aqui permaneceram.
A promessa agora é minha. Vou procurar me informar para, em outro momento, aqui registrar as consequências desse fato importante.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Uma grande prova de coragem




Tenho alguns amigos de infância que são pescadores artesanais em Barra Velha. Hoje relato aqui um acontecimento que envolveu meu amigo Roberto. Eu assisti pessoalmente e fiquei muito emocionada.
Antes de relatar o fato, preciso dizer que Roberto tem bem mais de 70 anos de idade, um problema sério de pele na perna, que já o levou ao hospital e sua coluna tem uma curvatura constante de mais ou menos cento e vinte graus. Ainda sai todas as noites, ele e um companheiro, a enfrentar o mar para de lá trazer o pescado.
Aconteceu nos primeiros dias logo que voltei a morar definitivamente aqui em Barra Velha.
Estávamos vivendo as primeiras horas da manhã e eu caminhava pelo Costão dos Náufragos em direção ao porto dos pescadores. O final de uma forte ressaca no mar ainda fazia com que as ondas tornassem a chegada das canoas ao porto bastante arriscada.
Por isso, os pescadores aguardavam ao largo até o momento oportuno para chegar à praia com segurança. Meu amigo Roberto, ao largo, a espera de uma calmaria, controlando o leme e o motor, optou por aportar o seu barco.
Nesse momento ele se viu surpreendido por uma enorme onda atrás do barco. Eu ali, assistindo tudo, fiquei muito apreensiva com o desfecho que poderia acontecer. Mas o valente pescador, e esses podem ser denominados de valentes mesmo, não titubeou em nenhum instante. Esperou a enorme onda se acercar de sua embarcação e, no momento exato, alinhou a canoa, acelerou o motor e, suavemente, surfou a onda com a canoa, companheiro, todos os seus equipamentos e o produto de uma noite de pesca em mar bravio e conseguiu chegar à areia em segurança. Chorei. Corri até a praia, abracei meu amigo e aproveitei para pedir autorização para escrever essa sua aventura aqui. Ele dizia somente:  “Não é fácil! ”
Não escondo de ninguém a minha admiração por essas pessoas que enfrentam o mar todas as noites como profissão. Os pescadores artesanais. Valorosos e corajosos como poucos.
Melhor pensar duas vezes antes de pechinchar o preço do pescado ao comprar na canoa.




Aqui, um esclarecimento


                                              

Antes de retomar meus escritos, cumpre-me esclarecer a todos os leitores deste veículo que sou, única e tão somente, uma contadora de histórias e que os textos que aqui publico não têm status de documento.
 Faço, portanto, um alerta. Meus escritos não devem ser utilizados como fonte de pesquisa, pois não são documentos históricos. Deixo esse compromisso para os nossos historiadores que sabem fazê-lo com propriedade e competência.
Sim. São crônicas baseadas em fatos reais. São histórias que ouço por aí e as repasso com temperos gerados na minha alma nativa. Recebem sabores e tintas que as fazem mais agradáveis ao leitor.
Espero que gostem dessa nova fase onde darei prioridade aos contos do meu canto. Da minha tão amada Barra Velha.