segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Transmitir conhecimento - uma questão de genética


               

Era uma tarde de clima agradável quando resolvemos, minhas irmãs Graça, Suely e eu, fazer uma visita ao senhor Moacyr Borba que, aos 93 anos, ainda detém uma memória invejável. Parece visualizar cada acontecimento relatado. Momentos muito agradáveis passamos na sua companhia.
Essa visita veio a confirmar algo de que tínhamos desconfiança, mas não certeza. A vocação para os misteres do magistério, esse verdadeiro sacerdócio, tão presente em tantos membros da família, especialmente o tronco Moura, tem seu início em tempos remotos de nossa ancestralidade.
Relatou-nos o senhor Moacyr que, em algum período do século XIX, era professor em Barra Velha, o primeiro do local, o senhor Manoel da Silva Quadros, avô do senhor Jânio da Silva Quadros, personagem da história de nosso país por ter sido um de seus presidentes no início dos anos 1960.
Houve por bem que esse ilustre cidadão de nossa comunidade fosse convocado para exercer a Exatoria do município de Parati, mais tarde denominada, Araquari. Nesse momento, entra em ação a primeira professora da família de quem se tem notícia, também a primeira professora destas paragens de Barra Velha. A partir daí nem tenho condições de quantificar o número de professores na família, muitas vezes nem o sendo por formação, mas por paixão ou apelo do sangue.
Com a convocação do senhor Manoel da Silva Quadros para a função de Coletor em Araquari, foi nomeada pela Província de Florianópolis, ninguém menos do que minha avó, Antônia Higina da Graça Moura para o substituir na função de professora formada, advinda de São Francisco do Sul.
Não era sem orgulho que meu pai nos relatava a lembrança de ver a sua mãe saindo a cavalo para exercer sua tarefa de educadora. Sentada na cela, de lado, a saia cobrindo boa parte do animal. Essa cena parece se materializar em minha mente.
A escola situava-se na, hoje, praia da Península, entre o mar e a lagoa. Pelo menos uma das filhas da minha vovó Antonica também exerceu o magistério por aqui. Meu pai sempre foi envolvido com as coisas da educação em Barra Velha enquanto estudávamos na antiga Escola Reunida Pedro Paulo Philipi.
Anos mais tarde, minha avó foi homenageada pelo município. Foi dado o seu nome a uma escola, na localidade de nome Pedras Brancas, bem próxima do mar. Houve uma ocasião em que o Exército e a Marinha Brasileiros executavam treinamento nas proximidades, a escola foi agraciada com farta doação de material. Livros, cadernos, mapas e até alimentos.
Meu avô, José Antônio Lopes de Moura, o popular Zé Lopinho, não era professor, mas cabe dizer que foi nomeado pelo Governo da República como supervisor das obras da ferrovia de São Francisco do Sul, que tinha por finalidade escoar a produção agrícola e fabril da região para o porto localizado ali.
Não existem registros, mas minha imaginação me conduz para a possibilidade de Antonica e Zé Lopinho terem se conhecido e se apaixonado nesse tempo. Ah... o Cupido! Trouxe-nos a vovó e Barra Velha ganhou sua primeira professora.





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