Quando eu era pequena, na década de 1950, meu pai adquiriu
uma carroça e duas éguas bem iguaizinhas, para nossos deslocamentos pelos
arredores de onde morávamos, a praia de Barra Velha, em Santa Catarina.
Quando digo que eram iguais, não me expresso bem. Tinham a
mesma cor, mas uma era ligeiramente maior do que a outra, além do que era muito
mal humorada, mordia, dava coices, não se deixava montar, aceitava apenas os
agrados e a montaria de minha irmã, a Ira.
Eu, claro, montava sempre a menor e saíamos pelas ruas,
montadas em pelo, somente com o barbicacho e as crinas para nos segurar. Isso
sim foi uma infância feliz! Minha irmã e eu tínhamos duas amigas gêmeas e nós
quatro nunca nos separávamos. Grandes companheiras de aventura! A Maninha Grande,
Marilda, montava a égua grande com minha irmã e a Maninha Pequena, Marília, e
eu íamos passear montadas na égua pequena em segurança.
Lembro-me de uma ocasião em que, em pleno passeio, fomos
surpreendidas por um temporal com raios e fortes trovões. As éguas se
assustaram e começaram a galopar. A maior disparou com minha irmã e a Maninha Grande
montadas nela, mas como minha irmã é uma santinha, acalmou o animal, por consequência
a outra égua acalmou-se também. Eu já estava chorando nesse momento. Foi tenso,
muito tenso!
Às vezes meu pai pedia para levarmos as duas éguas até um
local denominado Coreia, naquele tempo, que atualmente é a chamada praia da Península,
entre o mar e a lagoa, com o objetivo de os animais pastarem um pouco de capim
salgado, pois isso lhes faria bem. Assim fazíamos regularmente até que um dia,
enquanto íamos a pé até onde estavam os animais, uma maré de lua repentinamente
alagou parte do caminho por onde retornaríamos. Passamos por dentro do caminho
alagado montadas, com água batendo na barriga das éguas. Outro dos momentos
inesquecíveis da minha infância.
Em outra ocasião, meu pai atrelou as éguas à carroça para
levarmos uma carga de telhas até o Sertãozinho,
um lugarejo próximo de Barra Velha. Colocou capim seco do quintal recém carpido
entre as telhas para que não quebrassem. Na volta, a carroça veio vazia, meu pai comandando as rédeas e minha mãe ao seu lado, sentados no banco. Meus dois irmãos e eu lá atrás, no meio do capim seco misturado com terra
preta. Uma chuva torrencial alcançou-nos no caminho. Ficamos todos ensopados,
minha mãe, meu pai, meus irmãos e eu. Nós três, sentados ali naquela carroça
toda cheia de sujeira, ficamos sujos como porquinhos. Eu olhava aquelas casas
de madeira muito simples na beira da estrada com crianças na janela,
confortavelmente secas e aquecidas, olhando a chuva desejei muito estar morando
em uma delas. Ao chegar a casa, um banho quente, um pijaminha de pelúcia bem
quentinho com toquinha igual, (meu irmão, o Marinho, ficava muito engraçadinho
com aquela toca) uma sopa igualmente quente e cama, evitou que pegássemos um
resfriado por conta daquela aventura. Cuidados de uma mãe fada.
Não tínhamos espaço em nosso quintal para que nossas éguas
pernoitassem ali. Meu pai pedia a gentileza para o seu Moacir Borba para que
elas pudessem pernoitar em seu pasto, bem perto de casa. Todas as noites, nossa
tarefa era levá-las até lá para o pernoite. Deixa estar que era história
corrente entre o povo do meu lugar, que havia uma bruxa, ou Saci que trançava
as crinas dos animais durante a noite. Eu não acreditava, pois nunca havia
acontecido algo semelhante com nossos animais, até a manhã em que minha irmã e eu
fomos buscar nossos animais, minha irmã deu aquele assobio característico e
elas correram para a porteira. Pasmem! Eu vi as crinas das duas éguas
perfeitamente trançadas. Eram tranças finíssimas feitas por alguém que teve
tempo e habilidade para fazê-las.
Seria obra do Saci, ou da Velha Cabeluda? HAHAHAHA...
Mistério!...
te acheiiiiiiiii.....linda passagem
ResponderExcluirQue bom, minha amiga!!! Vou adorar a sua companhia!
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