Acredito que todas os leitores compulsivos trazem esse
gosto, essa tendência consigo ao nascer. Despertar e fazer crescer dentro de
nosso ser o gosto pela leitura é um privilégio, creio, de poucos.
O lugar maravilhoso onde nasci oferecia a seus moradores,
uns poucos veranistas e outros tantos visitantes uma natureza farta e
exuberante em beleza, mas os recursos, em se tratando de educação, eram muito
precários. Por conta disso, minha irmã e eu, aos 11 e 13 anos, tivemos que dar
continuidade a nossos estudos em uma cidade próxima, Jaraguá do Sul, onde
existia um internato de freiras alemãs da Ordem da Divina Providência. Logo nos primeiros dias, fazendo o reconhecimento do local, fui apresentada à biblioteca. Qual não foi minha
alegria, espanto e admiração ao encontrar uma sala, cujas paredes eram cobertas
por estantes lotadas de livros de todas as espécies. Nunca poderia imaginar que
realmente existisse, de verdade, todo aquele tesouro. E, claro, virei “rata” de
biblioteca. Ao longo de minha permanência no colégio devorei toda a obra ali
disponível de M. Delly, romances para adolescentes que eu julgava serem
escritos por uma mulher e somente há pouco tempo vim a saber que aquele M. não
era de Madame. Esse era apenas o pseudônimo de um casal e escritores franceses.
Fiquei triste, decepcionada. Estava certa de que quem escrevia aquelas lindas
histórias que povoavam meus devaneios de adolescente romântica era uma amável
senhora com os cabelos grisalhos atados à nuca. Ai... a imaginação fértil da
garota sonhadora que fui um dia.
Nesse mesmo tempo e espaço, li quase toda a obra de José de
Alencar com o qual me identifiquei muito, embora lírico e muito descritivo.
Para mim aquela era a sala da magia e esse autor me conduzia a cenários
inimagináveis, bem fora da realidade de então.
Tenho bastante simpatia por autores estrangeiros como
Gabriel Garcia Marquez, Isabel Allende ou Ernest Hemingway, só para citar
alguns, mas, como autêntica patriota ufanista até, meu interesse fica
totalmente voltado para a maravilhosa literatura brasileira.
Uma obra lida que se destaca entre todas é Grande sertão:
veredas, escrita por João Guimarães Rosa. Não tenho o hábito de reler os livros
que leio, mas a leitura desse me foi tão prazerosa que, após ler a última frase
da obra, voltei para a primeira página e iniciei a releitura imediatamente. O melhor
de todos, sem dúvidas!
Outra obra, cuja leitura deixou marcas foi O cortiço de
Aluísio de Azevedo. Ainda trago comigo os personagens mais marcantes dessa
narrativa: Rita Baiana e João Romão. É bem provável que essa seja a minha
próxima releitura.
E o que falar de Jorge Amado, cuja fase engajada
politicamente lhe rendeu suas melhores obras. Capitães da areia é um belo
exemplo disso. Pedro Bala, João Grande, Pirulito, Sem Pernas e os outros dão
aulas de ética quando juntos ou individualmente, por mais paradoxal que possa
parecer, por serem eles, os capitães da areia, um grupo de menores delinquentes.
O autor manobra seus personagens de maneira sutil, às vezes nem tanto, e faz
sua contundente crítica social. Não se pode dizer, no entanto, que suas obras
da fase mais, digamos assim, comercial, não proporcionem momentos de delicioso
entretenimento. Em todas há sempre, pelo menos, um personagem passando grandes
lições de civismo e cidadania.
Érico Veríssimo, que conheci quando já mais madura,
conseguiu me arrebatar com sua narrativa forte e tantas vezes misturada à
realidade, sobretudo, política.
E aí vão tantos outros, não menos importantes e
arrebatadores. Se me alongo mais, torno a leitura enfadonha e prezo muito os
meus queridos leitores. Pretendo voltar ao assunto, sempre que me sentir
empolgada.
Texto inspirador. acho que vou ler Capitães de Areia...
ResponderExcluirComo sempre, leitura agradável e que nos leva a viver junto essa experiência.
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