domingo, 7 de junho de 2020

Ainda sobre livros




Acredito que todas os leitores compulsivos trazem esse gosto, essa tendência consigo ao nascer. Despertar e fazer crescer dentro de nosso ser o gosto pela leitura é um privilégio, creio, de poucos.
O lugar maravilhoso onde nasci oferecia a seus moradores, uns poucos veranistas e outros tantos visitantes uma natureza farta e exuberante em beleza, mas os recursos, em se tratando de educação, eram muito precários. Por conta disso, minha irmã e eu, aos 11 e 13 anos, tivemos que dar continuidade a nossos estudos em uma cidade próxima, Jaraguá do Sul, onde existia um internato de freiras alemãs da Ordem da Divina Providência. Logo nos primeiros dias, fazendo o reconhecimento do local, fui apresentada à biblioteca. Qual não foi minha alegria, espanto e admiração ao encontrar uma sala, cujas paredes eram cobertas por estantes lotadas de livros de todas as espécies. Nunca poderia imaginar que realmente existisse, de verdade, todo aquele tesouro. E, claro, virei “rata” de biblioteca. Ao longo de minha permanência no colégio devorei toda a obra ali disponível de M. Delly, romances para adolescentes que eu julgava serem escritos por uma mulher e somente há pouco tempo vim a saber que aquele M. não era de Madame. Esse era apenas o pseudônimo de um casal e escritores franceses. Fiquei triste, decepcionada. Estava certa de que quem escrevia aquelas lindas histórias que povoavam meus devaneios de adolescente romântica era uma amável senhora com os cabelos grisalhos atados à nuca. Ai... a imaginação fértil da garota sonhadora que fui um dia.
Nesse mesmo tempo e espaço, li quase toda a obra de José de Alencar com o qual me identifiquei muito, embora lírico e muito descritivo. Para mim aquela era a sala da magia e esse autor me conduzia a cenários inimagináveis, bem fora da realidade de então.
Tenho bastante simpatia por autores estrangeiros como Gabriel Garcia Marquez, Isabel Allende ou Ernest Hemingway, só para citar alguns, mas, como autêntica patriota ufanista até, meu interesse fica totalmente voltado para a maravilhosa literatura brasileira.
Uma obra lida que se destaca entre todas é Grande sertão: veredas, escrita por João Guimarães Rosa. Não tenho o hábito de reler os livros que leio, mas a leitura desse me foi tão prazerosa que, após ler a última frase da obra, voltei para a primeira página e iniciei a releitura imediatamente. O melhor de todos, sem dúvidas!
Outra obra, cuja leitura deixou marcas foi O cortiço de Aluísio de Azevedo. Ainda trago comigo os personagens mais marcantes dessa narrativa: Rita Baiana e João Romão. É bem provável que essa seja a minha próxima releitura.
E o que falar de Jorge Amado, cuja fase engajada politicamente lhe rendeu suas melhores obras. Capitães da areia é um belo exemplo disso. Pedro Bala, João Grande, Pirulito, Sem Pernas e os outros dão aulas de ética quando juntos ou individualmente, por mais paradoxal que possa parecer, por serem eles, os capitães da areia, um grupo de menores delinquentes. O autor manobra seus personagens de maneira sutil, às vezes nem tanto, e faz sua contundente crítica social. Não se pode dizer, no entanto, que suas obras da fase mais, digamos assim, comercial, não proporcionem momentos de delicioso entretenimento. Em todas há sempre, pelo menos, um personagem passando grandes lições de civismo e cidadania.
Érico Veríssimo, que conheci quando já mais madura, conseguiu me arrebatar com sua narrativa forte e tantas vezes misturada à realidade, sobretudo, política.
E aí vão tantos outros, não menos importantes e arrebatadores. Se me alongo mais, torno a leitura enfadonha e prezo muito os meus queridos leitores. Pretendo voltar ao assunto, sempre que me sentir empolgada.



2 comentários:

  1. Texto inspirador. acho que vou ler Capitães de Areia...

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  2. Como sempre, leitura agradável e que nos leva a viver junto essa experiência.

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