Retomando a narrativa, onde eu falava sobre o quintal da
minha casa se assemelhar a um zoológico. Meu pai sempre teve cachorros. De raça
ou sem raça, eles faziam parte de nosso dia a dia, junto com os da minha irmã
Graça e até eu, que não era lá muito fã de pelos, tive um que ganhei de
presente da irmã Tute (Sueli). Além dos gatos, pai, mãe e filhotes, que a Graça
cuidava com todo amor e cuidado.
Houve um tempo em que meu pai trouxe para casa, a fim de
fornecer leite saudável e forte para a família, uma cabra com três graciosos
cabritinhos. Todos branquinhos, eles eram muito engraçadinhos. Às vezes, sem
nenhum estímulo, punham-se a pular no mesmo lugar os três ao mesmo tempo. Um
encanto!
Em outro momento,
apareceu com um casal de coelhos. Em pouco tempo já eram trinta e dois
bichinhos e aumentando aceleradamente. Claro que foi intimado a se livrar deles
sem demora. Muito difícil mantê-los em casa. Mas eram tão bonitinhos!...
A parelha de éguas mais a carroça tinham finalidade
funcional. Serviam de transporte para pequenos deslocamentos. Em determinadas
épocas, meu pai achava necessário que as éguas se alimentassem de capim salgado
e pedia para que as levássemos à praia da península, chamada Coreia na época.
Minha irmã e eu as levávamos montadas em pelo, sem sela, nem arreio, apenas com
um cabresto na boca para que pudessem ser direcionadas para esquerda, direita
ou parar. Em uma dessas ocasiões, ao retornarmos com os animais para casa,
fomos surpreendidas por uma maré de lua, quando, em alguns trechos, o mar
emendava, emenda até hoje, com a lagoa. Seguimos montadas, as éguas com água
quase batendo na barriga. Foi forte a adrenalina! Forte também foi a experiência
das crinas que foram trançadas sem que pudéssemos encontrar explicação
plausível para o fato. Contei essa passagem na crônica: Seria o saci, ou a
velha cabeluda, neste mesmo veículo.
Porém nada se compara ao galinheiro, em diversidade animal.
Ali conviviam as donas da casa, as galinhas, com perus, marrecos e até um
curral, onde eram criados dois gordos leitões. Foi em cima do telhado desse
curral que minha irmã e eu subimos e, de lá, atirávamos, displicentes, os grãos
de milho para as galinhas. Para total surpresa, e não menor assombro, o telhado
não resistiu e foi abaixo. Nós duas vimo-nos sentadas no chão do curral com
pedaços de telha caindo em nossa cabeça. Não sei se o leitor já viveu a
experiência de rir e chorar ao mesmo tempo. Foi isso que vivemos, uma olhando
para a outra. Com direito à bronca posterior, justa, por sinal. As galinhas
eram maioria. Nos finais de tarde, meus pais as soltavam para que comessem os
brotinhos da grama. Era um festival de cocoricós! Às sextas feiras, eles aproveitavam
a exposição de galináceos para escolher aquela que seria o almoço de domingo. A
escolhida era isolada embaixo de uma caixa a fim de fazer a dieta necessária
antes do abate. Penso, atualmente, o quanto isso me causa estranheza. Estranho
também, mas absolutamente normal para a época, era o fato de meu pai manter sua
espingarda de caça ao alcance das mãos enquanto almoçava, na época do inverno.
Do seu lugar à mesa, ele visualizava, pela janela, um lindo pé de aroeira, onde
pousavam sabiás gordinhos, oferecendo-se para a canja do jantar. Ele apoiava os
braços na mesa de refeição segurando a espingarda, fazia a mira e atirava. E lá
íamos nós, felizes, buscar o precioso ingrediente do jantar. Ele nunca errava
um único tiro. Lembro de não apreciar, nem comer essa dita canja.
Houve um tempo em que tínhamos quarenta galinhas vermelhas,
de raça, que punham ovos igualmente vermelhos diariamente. Meus pais estavam
sozinhos em casa, pois nós todos estávamos fora de Barra Velha estudando e
aquela produção diária de ovos não dava trégua. Todos os vizinhos ganhavam
ovos. Meu irmão mais velho, Ubiratan, que ia para casa todos os finais de
semana, quase virou um lagarto de tanta gemada que comia. Resultado da
superpopulação de galinhas e consequente produção diária de ovos: as penosas
tiveram que virar almoço. Tempos de fartura!
Meu pai trabalhava na Prefeitura, que ficava duas casas
acima da nossa, na mesma rua. Todos os dias, no lanche das dez horas, minha mãe
preparava um Toddy e nele colocava uma gema crua, que ficava ali boiando. Pedia
para que nós levássemos esse lanche para ele no trabalho. Essa missão nós
compartilhávamos com nossas amigas Maninhas, as gêmeas Marilda e Marília. Somos
amigas desde então e até hoje elas lembram do Toddy que levávamos para o meu
pai no trabalho. O nosso Toddy também tinha uma gema crua. Passei esse hábito
para minhas filhas. Elas adoravam e, se deixasse, comiam até meia dúzia em um
só dia. Exagero. Apenas uma por dia.
Entre o gramado do lado oeste e a casa, havia um espaço de
areia compacta, onde meus sobrinhos, Júnior, Mário Luiz, e eu jogávamos
futebol. Os dois controlavam a bola e chutavam em gol. A goleira era eu. Muito
bom isso. Temos pouca diferença de idade. Eles também têm na memória esses
momentos divertidos.
Aquele quintal era nosso parque de diversões. A diversidade
das brincadeiras era enorme. Sem tecnologia nenhuma, nos divertíamos com o que
tínhamos à mão. A criatividade e a imaginação impulsionavam a criação dos brinquedos
e das brincadeiras. Sapatos feitos de lata, que eram furadas no fundo de fora
para dentro. Ali se colocava um cordão comprido que ligava as duas latas, para
segurar com as mãos. Colocava-se os pés em cima das latas fixando o cordão
entre os dedos. Apostávamos corrida usando aquele instrumento. Claro que os
tombos eram espetaculares! Além dos dedos e pés bem machucados. Com as latas de
leite em pó, farinha láctea e outros conteúdos, fabricavam-se carrinhos para puxar.
Cinco, seis ou mais latas cheias de areia recebiam uma segunda carga em cima. Essas
rodavam para trás, enquanto as de baixo rodavam para frente. Havia disputa
entre os meninos da redondeza para ver quem fabricava o maior carrinho. E tome
corridas, derrapadas e capotamentos! E a imaginação a mil!
Olhem aí o texto atingindo o tamanho ideal novamente. É hora
de interromper a narrativa. Direi novamente.
Continua...
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