sábado, 2 de novembro de 2013
Sobre o privilégio de ter um pai assim
Meu pai está entre as pessoas mais carinhosas que têm passado pela minha vida. Nada, nem ninguém poderia sequer pensar em atingir qualquer um dos seus, sem arrumar uma bela confusão. Isso não significa que fosse uma pessoa violenta, muito pelo contrário. Era um homem da paz e pela paz.
Antagonicamente, não era dado a gestos como abraços e beijos. Lembro-me de sua maior manifestação de contato físico com os filhos e netos que conheceu. Cheirava-nos o alto da cabeça e dizia: “Hummm, mo nego, que cheirinho de marcela!” Marcela, ou macela, é uma flor de aroma bem acentuado que se utilizava antigamente para encher travesseiros. Daí o perfume que sentia nos nossos “cocurutos”. Há, no entanto, uma exceção. Um único abraço, seguido de um beijo na testa, que recebi num momento marcante da minha vida, é o que vou relatar a seguir.
Estávamos no ano de 1974, em junho, e minha princesa número 1 ainda estava comigo. Meu pai, junto com sua amada Lourdes tinha decidido vir morar conosco, alegando a necessidade de auxiliar meu irmão na empresa dele, mas, na verdade, isso era pretexto para ficar comigo e garantir que nada faltasse a mim e a minha princesinha. Pura preocupação! Puro carinho!
Morávamos em uma ampla casa no bairro Boa Vista, em Joinville, bem próximo ao colégio onde eu trabalhava como professora. Nesse tempo, os cuidados com minha filhinha precisaram ser intensificados por conta de sua debilidade física cada vez maior. O médico que cuidava dela, um neurologista, provavelmente percebendo a proximidade do fim, aconselhou-nos, a mim e a meu marido, que “encomendássemos” outro bebê.
Assim aconteceu. Pouco tempo depois, eis que a Juliana já estava a caminho. E dá-lhe mimos e paparicos para a grávida mais recente! Meu pai fazia todas as minhas vontades. Vezes sem conta saia à noite, no inverno, em busca do desejado pinhão cozido, que trazia quentinho. Eu tinha até que tomar cuidado ao fazer qualquer comentário, pois ele não costumava deixar passar nada. Um anjo da guarda cinco estrelas!
Mas num dia, infelizmente aconteceu o que todos prevíamos e temíamos. O estado de saúde de minha filhinha piorou muito. Nesse momento eu estava ausente de casa, dando aula e, quando cheguei meu marido, junto com minha mãe e minha amada diretora que os levou no seu carro, já haviam-na levado para o hospital. Meu pai ficara me aguardando para irmos juntos para lá. Ao chegarmos, avisaram-nos que ela não resistira. Minha primeira reação foi ir até onde ela estava. Foi quando meu pai me abraçou, beijou-me a testa e disse:
“Fica aqui com o pai.”
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