Havia uma barbearia em Barra Velha, na esquina das ruas Ernesto Krause e Santa Catarina, cujo dono, um senhor de Curitiba, baixa estatura, cabelos brancos, bigodinho preto que atendia seus fregueses até o final da tarde, depois
se dirigia ao bar do Horacinho, localizado onde atualmente está o Edifício
Lagoa.
O bar marcava pela simplicidade. Mesinhas de madeira, cadeiras de
palha, a areia da praia servindo de piso para o estabelecimento. Nesse tempo a
praia se estendia até ali. O senhor barbeiro gostava de frequentar o bar
especialmente para ouvir histórias de pescadores que por ali se reuniam nesse
horário, entre eles o Mané Carrinho, que não frustrava seus ouvintes. Caprichou
e mandou essa:
Inverno rigoroso, uma “lestada” de uns quinze dias
impossibilitava qualquer atividade no mar, pois os parcos recursos da época não
permitiam tal aventura. Restava-lhe apenas esperar a calmaria. Espiava
diariamente, o Mané, por uma frestinha da janela e nada. O vento não aliviava.
Sobreviviam alimentando-se de peixe “escalado”, aberto pelas costas, salgado e
pendurado em cima do fogão de lenha para secar, armazenado justamente para
essas ocasiões. A “brisa” persistia e o
peixinho estocado ia se acabando até que ficaram sem ter o que comer. Foi até a lagoa para ver se pescava algo e não
demorou muito para encontrar quatro enormes unhas de velha, um crustáceo de
concha estreita e longilínea, que mede uns oito centímetros, mas as encontradas
por Mané na ocasião, mediam uns vinte centímetros cada uma.
O senhor barbeiro, espantado, apoiava-se no encosto da
cadeira, cujos pés traseiros iam se enterrando na areia do piso. Os olhos da
criançada, cada vez mais arregalados. A narrativa continuava.
Trouxe para casa aquele achado providencial e entregou-o à esposa para que as temperasse e fritasse, enquanto ele se limpava da lama da lagoa. Foi quando ouviu um
grande estrondo. Correu até a cozinha, procura daqui e dali a origem do barulho
e constataram de diferente apenas que havia somente duas unhas de velha na frigideira. Não
deram muita importância ao acontecido. Preparavam-se para comer quando outro
estrondo se ouviu. Destampando a frigideira, viram que somente um crustáceo
sobrava ali. Dividiram entre si, jantaram e foram dormir.
No dia seguinte, foi ele espiar novamente pela janela para
sondar o tempo e vislumbrou, vindo pelo “combro” da praia, seu filho mais velho,
o “Calo” (Carlos). Vinha agradecer ao pai o jantar da noite anterior, dizendo
que, não fosse pelas três unhas de velha que ele havia mandado na noite
anterior, não teriam o que comer. Nesse momento o Mané Carrinho encerra sua
história, explicando: aqueles estrondos eram as unhas de velha saindo como um
foguete pela janela e indo parar justamente na mesa de jantar do filho.
O senhor barbeiro não aguentou e caiu para trás com cadeira
e tudo.
As crianças caíram na gargalhada.
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