Crianças que se atrapalham ao falar encantam qualquer pessoa.
Os problemas de prosódia corrigem-se naturalmente com o passar do tempo, mas as
lembranças permanecem.
A Juliana era especialista em trocar letras e pronúncias. Sempre
que se referia a algo que estava muito no alto, dizia: “Ta lá... na micina!”. Quando alguém que ela não conhecia batia à
porta e ela atendia, disparava: “Mãããe, é o aguém”,
pronunciando o u. Sobrancelha, para ela, era lebrancinha e o bezerrinho, avistado da janela da casa da avó, era borrezinho.
O filho mais novo da Juliana, o Davi, herdou da mãe esse talento
tão engraçadinho. Ao ser repreendido por uma travessura, retruca: “Mãe, ninguém
é prefeito, né?” A vizinha, dona
Ivone, tem um gatinho com o qual ele gosta de brincar. Ao se dirigir a ela,
pedindo permissão para brincar com o bichano, ele chama: “Tia Geysa!!!”, uma
tia da mãe dele. De vez em quando ele se sai com uma pérola.
A Bruna, ao sair do mar, reclama: “Ai, eu to toda sagalda!”
A Isabel, quando vinha passar férias na casa da vó Lourdes,
trazia com ela muita alegria para todos, que faziam de tudo para que ela se
sentisse feliz como nós ficávamos com sua presença em casa. E lá chegava ela,
perninhas esticadas, sentadinha no banco de trás do carro de um avô feliz e
orgulhoso com a passageirinha. Ao seu lado, a malinha de roupas e no braço, um
casaquinho de lã, vermelho, com gola preta, de pelo. À noite, na oração antes de
dormir ela pedia: “Tia, quero rezar o creim!”
Que situação... que oração seria essa? Em seguida ela mesma esclarecia: “Creim Deus Pai todo poderoso...” Ufa, alívio geral.
O Mário Luiz, ao chegar à praia com a família, no verão, já
era noite fechada. Ansioso para tomar um delicioso banho de mar no dia seguinte
ele corre à janela para conferir o tempo e as possibilidades de fazer um belo
dia de sol no dia seguinte. Percebe uma noite estrelada e corre para o pai: “Ih,
pai, amanhã vai chover! O céu está todo furadinho!”
O Pedrinho, em dúvida, pergunta: “Mãe, o que é IBAMA?” A
Adriana, feliz com o interesse do filho, cinco anos, por assuntos tão
importantes, se esmera na explicação. Fala de meio ambiente, preservação,
consciência ecológica, blá, blá, blá... O pequeno, intrigado, olha para a mãe e diz:
“Nada disso, mãe! IBAMA é o presidente dos Estados Unidos!”
Logo que comprei meu primeiro vídeo cassete, íamos com frequência à locadora, situada ao lado de uma pizzaria, que fazia anúncio de seu
produto na caixa dos filmes. Lá pela quinta locação a Fernanda sugere: “Por
que a gente não pega esse filme ‘Que tal uma pizza hoje?’”
Todas essas lembranças são um deleite. A espontaneidade das
crianças é um bálsamo para os pais, tios e avós, principalmente os “corujas”
como eu.
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