Existem fatos da minha vida profissional que me ficaram
marcados para sempre. Pretendo relatar alguns aqui. Foram momentos vividos com
muita emoção.
Eu dava aulas de Língua Portuguesa para jovens adolescentes
e, de quando em vez, cada um deles escolhia um tema de seu agrado,
estudava, preparava-se e na data marcada apresentava-o para a professora e seus
colegas de classe. Minha única exigência era que o assunto fosse atual e
relevante para que todos pudessem aproveitar e aprender um pouco mais. Para isso,
a dicção precisava ser clara, a postura impecável e o aluno mestre deveria
estar com seu tema totalmente dominado. Como eu aprendia nessas aulas! Sentava-me
em um dos lugares dos alunos e bebia conhecimento .
Com os maiores, de catorze e quinze anos, lá pelo final do
ano eu propunha, para avaliar sua expressão oral, um recital de textos
poéticos. Meu objetivo, entre tantos, era fazer com que, principalmente os
meninos, pudessem se voltar mais para as coisas da emoção. Havia o prazo para a
escolha e memorização do texto, preparação e posterior apresentação. O alvoroço
nesse processo de criteriosa escolha, o envolvimento e troca de opiniões dava
as cores do que viria como resultado.
Aquela aluna, sempre tão impulsiva e questionadora,
surpreendeu recitando Vinícius de Moraes, Soneto
de fidelidade. E atacou: De tudo ao
meu amor serei atento... sublime, linda, comovida, outra pessoa! Lágrimas apontam
em meus olhos ao lembrar. Atualmente essa menina é advogada, como era de se
esperar pela sua postura. Não tenho dúvidas de seu sucesso profissional e também da sua
felicidade pessoal, se der asas àquela sensibilidade demonstrada ao recitar
Vinícius.
Aquele outro, sério, compenetrado, avesso a
sentimentalismos, resistiu bastante para executar o trabalho. Por fim aquiesceu
e escolheu um texto que falava de despedida, uma vez que estava de mudança
marcada para a Espanha no final daquele ano. Recitaria para sua namorada da
época. Dei um jeito para que ela estivesse presente naquela apresentação. O menino
postou-se à frente da turma, visivelmente emocionado. Começou a recitar o poema
escolhido e, já na primeira estrofe, sua voz começou a ficar embargada. Recitou a
segunda estrofe chorando e levou as mãos ao rosto aos prantos. Não conseguiu
concluir. A emoção não permitiu. Nós, plateia, derramamos todas as lágrimas do
mundo. Nos dias que se seguiram ele se inscreveu em um ateliê de literatura
para escrever um livro sobre o amor na adolescência. Atualmente, depois de
encontros e desencontros, a força do amor foi mais forte e os dois finalmente
estão juntos e apaixonados.
Sinto-me uma pessoa privilegiada e feliz por ter vivenciado
esses e tantos outros momentos marcantes com meus amados alunos. Hoje revivo
tudo isso na lembrança e perpetuo a felicidade vivida então.
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