segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dona Damiana




Quando a conheci, ela já era bem velhinha. O tempo havia dobrado seu corpo até dar a impressão de tê-lo dobrado.
Eu a vi assim, sentada no chão da casinha simples, encostada na parede, os joelhos tocando o queixo e o rosto moreno, vincado, retratando sabedoria.
As pessoas do lugar tinham por ela um respeito que beirava a devoção. Sempre recorriam a ela nos momentos difíceis, pois ali encontravam solução para seus problemas, principalmente os de saúde, com um benzimento, um chá, uma reza, uma “garrafada”, temperados com palavras de conforto e fé.
E lá fui eu, criança, levada pela mão de meu pai, fazer uma visita para a “velha” Damiana, assim ela era conhecida por todos.
Lembro-me de que, embora criança, ao vê-la, senti o impacto profundo de tamanha força em tanta fragilidade. Tenho nítida na minha memória a imagem daquela figura. Prova viva de que Deus não escolhe os preparados, mas prepara os escolhidos.  
Fiquei por ali ouvindo as pessoas a conversar...
Morava com ela um rapazote, mais ou menos doze anos, que a auxiliava, pois ela não se locomovia mais. Meu pai conversava com eles e foi assim que tomei conhecimento da seguinte historinha contada pelo menino:
Por aqueles dias, dona Damiana chamara seu ajudante e pedira-lhe que fosse buscar bananas. Estava com muita vontade de saborear a fruta. O rapaz reagiu dizendo ser impossível conseguir bananas naquela época do ano. Não havia como encontrar para comprar, etc...
Dona Damiana, com a calma que lhe era habitual, disse-lhe que na casa tal, naquele canto do terreiro, há um pé de banana com um cacho bem madurinho. Ele que fosse lá e trouxesse bananas para ela comer.
O menino foi com a certeza de que não iria encontrar as tais bananas. Nesse tempo não havia frutas fora de época. Como não era época de bananas...
Remoendo sua irritação por ter que se deslocar inutilmente até um lugar tão distante, o menino chegou ao lugar indicado pela senhorinha.
Lá estava o pé de banana contendo um cacho com frutas bem madurinhas.


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