Quando
a conheci, ela já era bem velhinha. O tempo havia dobrado seu corpo até dar a
impressão de tê-lo dobrado.
Eu
a vi assim, sentada no chão da casinha simples, encostada na parede, os joelhos
tocando o queixo e o rosto moreno, vincado, retratando sabedoria.
As
pessoas do lugar tinham por ela um respeito que beirava a devoção. Sempre
recorriam a ela nos momentos difíceis, pois ali encontravam solução para seus
problemas, principalmente os de saúde, com um benzimento, um chá, uma reza, uma
“garrafada”, temperados com palavras de conforto e fé.
E
lá fui eu, criança, levada pela mão de meu pai, fazer uma visita para a “velha”
Damiana, assim ela era conhecida por todos.
Lembro-me
de que, embora criança, ao vê-la, senti o impacto profundo de tamanha força em
tanta fragilidade. Tenho nítida na minha memória a imagem daquela figura. Prova
viva de que Deus não escolhe os preparados, mas prepara os escolhidos.
Fiquei
por ali ouvindo as pessoas a conversar...
Morava
com ela um rapazote, mais ou menos doze anos, que a auxiliava, pois ela não se
locomovia mais. Meu pai conversava com eles e foi assim que tomei conhecimento
da seguinte historinha contada pelo menino:
Por
aqueles dias, dona Damiana chamara seu ajudante e pedira-lhe que fosse buscar
bananas. Estava com muita vontade de saborear a fruta. O rapaz reagiu dizendo
ser impossível conseguir bananas naquela época do ano. Não havia como encontrar
para comprar, etc...
Dona
Damiana, com a calma que lhe era habitual, disse-lhe que na casa tal, naquele
canto do terreiro, há um pé de banana com um cacho bem madurinho. Ele que fosse
lá e trouxesse bananas para ela comer.
O
menino foi com a certeza de que não iria encontrar as tais bananas. Nesse tempo
não havia frutas fora de época. Como não era época de bananas...
Remoendo
sua irritação por ter que se deslocar inutilmente até um lugar tão distante, o
menino chegou ao lugar indicado pela senhorinha.
Lá
estava o pé de banana contendo um cacho com frutas bem madurinhas.
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